quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Dizem que a noite paulistana é a melhor

- Oi.
- Oi?
- Qual seu nome?
- Fernanda, e o seu?
- Paulo.
(...)
- Desculpa, eu não quero dançar com alguém.
- Ótimo, também não quero dançar.
- Sério, você está perdendo seu tempo. 
- Por que você não quer ficar comigo?
- Porque não.
- "Porque não" não é resposta.
- "Porque eu não quero" é?
- Tá certo, você não vai ceder. Só me diz: o que eu preciso melhorar? Se eu tivesse abordado de que forma você aceitaria?
- Não sei... mesmo. Eu tenho que olhar e falar "eu quero". É tão rápido que nem sei se o mérito é da pessoa, da química, do acaso ou dos três juntos. Quero dizer, não existe uma forma. É só vontade. Isso não se cria. 
- Você olhou pra alguém hoje e pensou "eu quero"? 
- Não.
- Então tem alguma coisa errada.
- Acontece... 
- Obrigado pela dica. Vou torcer pro acaso estar ao meu lado.
- Boa sorte!

Já exausta, esperando minha amiga terminar de jogar, eis que surge um inglês perguntando onde teria lugar pra dançar naquele espaço de algumas escadas, jogos, sofás e bares. O acaso estava do meu lado. Chamei-o pra ir comigo até a pista de dança. 5 amigos que saíam pela primeira vez em São Paulo, depois de chegarem de Florianópolis e já terem passagem comprada pro Rio. Dançamos muito, até eu perceber que queria alguém daquela roda. Jacob. Físico e matemático, 23 anos, aspecto de príncipe. Eu gosto de conto de fadas, tenho um lado conservador forte. Gosto do "felizes para sempre", mas aprendi que essa parte só acontece uma vez: no primeiro encontro. Quando não dá tempo de conhecer defeitos. Quando a gente fica somente com a melhor parte. A melhor conversa, a melhor atitude, a melhor intenção (por pior que ela seja). A sensação de sentir, pela primeira vez, o cheiro da pessoa é sempre inesquecível. Sem nada para atrapalhar o pensamento. Nenhuma briga, nenhuma repressão. Contradição é eu me apegar à quem vai embora. Porque leva um tanto de mim. E deixa um tanto, também. Quem vai embora, leva o melhor. O que nenhum relacionamento duradouro conseguiria. Não estou dizendo que é melhor viver assim. Estou dizendo que numa noite é possível ter um relacionamento perfeito, mas não em um mês. Pode ser que os momentos perfeitos que duram uma vida inteira valham mais a pena (mesmo com todo drama, com todas cartas rasgadas, com todos copos quebrados, com todo não), mas perfeccionista que sou, gosto da eternidade imaterial de quem fica só um dia. Sem cobranças, livres. Eu aprendi uma coisa nessa noite: na vida, a gente não ganha nem perde ninguém, tudo é experiência. Eu fico com a que me faz melhor. Escolhi viver o presente, joguei fora os sonhos construídos a dois que precisam de futuro. Para mim, "a hora do encontro é também despedida". Decidi viver com saudades. Só tenho rastros na memória, as sensações que ficaram, a melhor lembrança. Nada de Facebook, telefone, endereço. Já que não consigo, nem sei amar muita gente, decidi amar os primeiros e únicos encontros. Coleciono lembranças que não são comemoradas ao fazerem aniversário. Quem sabe um dia eu tente a perfeição todos os dias com uma única pessoa. Enquanto isso, a gente se diverte, dança e conversa numa noite sem futuro... porque toda vez que saio, eu sei: o meu amor (imperfeito) está em casa.