São Paulo, 13 de agosto de 2014
Gui,
Te escrevo porque quero me explicar. A gente se entende se
explicando. Ou eu, pelo menos. Às vezes não entendo nada, também, mas é uma
tentativa. Ou uma exposição e reconhecimento de problemas e isso já é um grande
avanço. Além disso, eu sei que você vai tentar me entender. Se não concordar,
você entende. Sempre. E sabe, tem poucas pessoas dispostas a me entender ao meu
redor. Eu tenho sentido falta de colo, carinho, declaração, compreensão,
abraço. Sei que é bem autoajuda, só que é muito fácil me amar quando mereço. Eu
queria que alguém pegasse na mão, me colocasse no colo e dissesse “vai passar”.
Mesmo eu estando insuportável e tendo plena noção disso. Não quero isso de você.
Até porque somos sem jeito demais pra contatos físicos. Mas, no fundo, bastaria
um olhar atento – o que eu acho que estou tendo agora. Literatura me salva.
Eu lembrei de você especialmente porque saí escutando The XX
e aí passou a música do seu filme. Tava um frio do caralho. E aquela música, e
aquelas pessoas, e tudo, sabe. Cenário de início de curta que termina com final
triste. Eu estava passando muito mal. (Ainda estou, mas agora tenho coberta,
pelo menos). Um mal equilibrado... pela primeira vez na semana, meu corpo se equilibrava
com todas as minhas dores interiores. Tudo doeu. Tudo. Da pontinha do pé ao fio
de cabelo. Da pontinha do nariz até o núcleo da minha alma - se é que isso existe. E eu não tinha forças para chorar. Sabe aquele choro pra dentro?
Orgulhoso, inadmissível, dolorido.
Os últimos dias foram ruins, Gui. (Eu sei que você não gosta
muito desse apelido, mas ainda não consegui encontrar um outro). Uma eterna
montanha russa que eu não sei onde vai parar. E eu estou com medo. Desde que a
gente conversou (há sete meses atrás), muita coisa aconteceu. Muita coisa que
ninguém entende, não quer entender ou não se importa. Aqui dentro, inclusive.
Num momento muito triste da minha vida, foi você quem me
ajudou colocar os pontos no i. E só eu sei o quanto isso foi necessário e bom.
Sinto falta de pessoas como você aqui. As pessoas são muito profissionais,
quadradas, “é a vida”, sabe? Aquilo de vou pra São Paulo ser perfeita. O problema é esse. Acho que o erro sou eu. Eu sou igualzinha todo mundo e não admito.
Desculpa, você não vai entender nada. Só que pra eu falar
assim, tu sabe: é amor. É ele, sempre. A pessoa que me ensinou chorar de alegria. Agora tá doendo, Gui. Menos que aquela vez, mas ainda é chato, é
urgente. E eu não sei o que fazer. Poucas pessoas entenderiam, poucas pessoas
acompanharam, poucas pessoas sabem. Talvez eu só queria mesmo colocar aquele plano
da dança em prática e deixar isso ser. Deixar isso explicar. O problema é que
preciso me cuidar. Minhas forças estão acabando e eu sou orgulhosa demais pra
pedir ajuda.
Vamos tomar um vinho, quando der. Enquanto isso, te escrevo
minhas histórias – aqui, na cabeça – pra quem sabe, um dia, te contar. Eu espero
que você esteja bem. Sempre gosto de saber de você.
De mim, que tanto te admiro... toda sorte do mundo!
Obrigada,
Fernanda
P.S.: Eu odeio meu aniversário, não sei se você também... torço para que esteja sobrevivendo ao inferno astral.